13 dezembro, 2010

Transportadoras reflectem subida do preço dos combustíveis nos clientes

O esperado aumento do preço dos combustíveis, que na semana passada regressaram aos máximos de 2008, durante o próximo ano deverá tornar insustentável a vida das transportadoras nacionais. A possibilidade surge depois da Agência Internacional de Energia (AIE) ter revisto em alta, e pela terceira vez consecutiva, as estimativas de consumo mundial de petróleo em 2011.
"Pelas normais leis do mercado, se há um aperto na procura, a tendência é para o aumento dos preços", reconhece António Comprido, presidente da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (Apetro). Ainda assim, e considerando que as estimativas da AIE prevêem um aumento de 260 mil unidades por dia, para um total de 88,8 milhões de barris, António Comprido ressalva que ainda que seja um "factor de pressão, não parece que estejamos a falar de números tão significativos que apontem para a inevitabilidade do crescimento dos preços no curto prazo".
Preços devem subir hoje
As gasolineiras que operam em Portugal subiram os preços dos combustíveis pelo menos duas vezes nos últimos dias e na próxima semana o cenário não será muito diferente, pelo avaliar pelo comportamento dos mercados internacionais, que está já a antecipar novas subidas na gasolina e também no gasóleo, embora a um ritmo menos acentuado.
Os preços praticados pelas gasolineiras têm como base a cotação média da gasolina e do gasóleo na semana anterior. Tendo em conta que, segundo dados da Bloomberg, ambos valorizaram a semana passada 1%, prevê-se uma nova subida dos preços dos combustíveis a partir de hoje.
Este é um cenário que faz tremer as estruturas associativas do sector dos transportes. A Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), a Associação Nacional de Transportadoras Portuguesas (ANTP) e a Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de Pesados de Passageiros (Antrop) são unânimes quanto à necessidade do Governo tomar medidas para garantir a sustentabilidade do sector no caso de "aumento excepcional" do preço dos combustíveis.
Luís Cabaço Martins, presidente da Antrop - que representa as empresas de transportes de passageiros, com excepção da Carris e da STCP - vê essa possibilidade "com alguma preocupação, porque representa um incremento dos custos muito significativo na estrutura das empresas de transportes". Numa altura em que os combustíveis já representam 30% do total de custos no transporte de passageiros, Cabaço Martins defende que "tem que haver alguma forma de compensação sob pena de termos de aumentar as tarifas".
Os combustíveis pesam ainda mais na factura total do transporte de mercadorias. António Lóios, presidente da ANTP, fala de 50% dos gastos e diz que a "indústria nacional não aguenta um aumento dos preços". E sublinha que, "nos últimos dois anos, fecharam 12 mil empresas de transportes".
"A situação está perfeitamente catastrófica para as empresas, com um novo aumento dos combustíveis não sei se não vamos parar a uma situação idêntica à que tivemos em 2008", diz o presidente da ANTP. Em 2008, enquanto a ANTRAM negociava com o Governo possíveis descontos nos combustíveis ou incentivos fiscais, um grupo de sete camionista avançaram para uma greve que parou o País durante três dias.
António Mouzinho, que já nessa altura estava à frente da ANTRAM, é mais cauteloso. Reconhecendo um aumento dos preços no último ano na ordem dos 20%, diz que, se os combustíveis aumentarem excepcionalmente, não haverá alternativa que não seja a de repassar os custos para os clientes: "Em matérias de economia não há milagres e quando um custo sobre na ordem dos 20% em escassos meses é evidente que terá que ser transferido para o consumidor."

In Sapo

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