Empresas estão entre os operadores de navegação afectados pela bolha especulativa que inundou o mercado de novos navios.
Muita oferta e pouca procura geram quase sempre preços mais baixos. Este é um dos problemas que o sector do transporte marítimo está a enfrentar e a que não é alheio o actual cenário de crise financeira.
António Monteiro, ‘sales manager’ do operador de navegação Green Ibérica e agente para Portugal da Evergreen, explicou que há “uma bolha especulativa porque nos últimos cinco anos os armadores construíram muitos navios para fazer face ao crescimento da procura nos mercados de exportação asiáticos para os EUA e Europa”. No último ano essa oferta ultrapassou a procura e os níveis de crescimento na China já não são os mesmos, logo os preços baixaram. A mesma ideia é defendida por fonte da Maersk Portugal que confirma a diminuição da actividade das empresas devido à diminuição das exportações dos países asiáticos.
A par desta quebra dos preços as empresas estão a enfrentar uma baixa no consumo, o que faz com que os navios estejam a viajar com mais espaço vazio.
Os fretes marítimos baixaram nas cargas a granel de forma significativa. A taxa de frete média (que inclui preço do petróleo e paridade entre moedas, entre outros itens) de um navio de 150 mil toneladas nas cargas a granel caiu de 200 mil dólares para quatro mil dólares, enquanto na área de contentores desceu cerca de 30%.
Rui d’Orey, administrador do negócio de ‘shipping’ do grupo Orey refere que no segundo semestre já se sentiram sinais da crise nas actividades de navegação e transportes internacionais. Mas que, apesar disso, o balanço é positivo. Segundo o mesmo responsável, houve um abrandamento nalguns tráfegos, sobretudo no último trimestre, quer na importação quer na exportação. Rui d’Orey destaca alguns mercados importantes, como Angola, que “se mantiveram firmes” e “a valorização do dólar” que contribuiu para sustentar as exportações para os mercados dominados por aquela moeda.
Jorge Noronha, responsável da Schenker, também admite um abrandamento da actividade fruto da actual crise e arrefecimento das importações.
António Monteiro refere que é na componente de importações que se tem sentido mais a diminuição de carga. Esta empresa transportou, até Novembro, 18.091 TEU (medida padrão de um contentor), enquanto que no mesmo período de 2007 totalizou 20.830 TEU. Nas exportações as oscilações são menores com 12.164 TEU este ano contra os 12.484 do ano passado.
Para contornar os eventuais decréscimos em 2009, António Monteiro afirma que é preciso encontrar novos clientes para tentar manter os níveis de produção de 2008. Questionado sobre onde poderão surgir oportunidades, o responsável afirma que há alguns sinais vindos da indústria transformadora de papel. Isto porque a nova fábrica da Portucel, em Setúbal, entrará em funcionamento no último trimestre do próximo ano. Além disso, “espera-se que ocorra um volte-face no sector do ‘shipping’”. A empresa deposita ainda esperanças no grupo Amorim, líder mundial do sector da cortiça, cujas exportações poderão ajudar a travar a queda no transporte de carga contentorizada.
Em termos de exportações quase todos os produtos têm descido, com excepção dos produtos alimentares, destacando-se entre estes o transporte de vinho português, produto que está a ser cada vez mais reconhecido no exterior, sobretudo nos Estados Unidos. Por ser mais barato do que o vinho francês, regista crescimentos a dois dígitos. No primeiro semestre a exportação de vinho cresceu 13% para o mercado norte-americano.
Recuo no sector automóvel diminui a carga
A diminuição dos volumes de produção na indústria automóvel também não ajuda o sector do transporte marítimo. A marcação de férias forçadas tem resultado na diminuição da carga movimentada por este sector. António Monteiro, da Green Ibérica, aponta o dedo à crise na indústria automóvel por estar a afectar o transporte marítimo sobretudo com as paragens de produção que têm sido agendadas pelos diferentes fabricantes instalados em Portugal, “o que faz com que haja menos carga para transportar”. No caso da Green Ibérica, que transporta peças dos fornecedores do sector automóvel por carga contentorizada, a diminuição da carga, devido às férias forçadas até Janeiro, é evidente. António Monteiro admite que, por semana, a empresa enviava para os EUA cerca de 20 contentores com peças para automóveis. Hoje “estamos a levar entre dois a quatro contentores, o que prova o decréscimo que esta ‘commodity’ está a sofrer”. Mais uma vez são os efeitos da crise financeira que limitam a concessão de crédito pela banca às financeiras, logo ao consumidor final.
In Diárioeconomico.com
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4 comentários:
Infelizmente a crise está aí.
Nada será como antes...navios com 14.000 teus a chegar á Europa com espaços de 5/6000 teus disponivéis.
Sem duvida afiguram-se tempos ainda mais dificieis para alguns dos grandes armadores mundiais. A ver vamos o que 2009 nos vai trazer...
Pessimismo tipicamente portugues. Em 1950/1960 os armadores enfrentaram uma crise bastante superior e ultrapassaram.Neste caso vai acontecer o que sempre acontece em todos os sectores economicos. Haverá um processo de adaptação e selecção natural em os melhores seguiram em frente. Segundo apurei, fontes niponicas indicam que em 2009 haverá um processo de fusão entre dois armadores chineses que estão entre os 15 maiores armadores do mundo( com possivel diminuição do numero de Teus disponivel).
Na minha modesta opinião, acho que 90% dos operadores logisticos em Portugal, não estão, nem vão estar preparados para enfrentar novos desafios. Porquê?? Porque simplesmente não têm capacidade de adaptação. Continuam presos às praticas logisticas de há vinte anos atras. Conselhos para 2009:- os transitarios deviam procurar nichos de mercado, onde ainda existem bom negocios.
- os agentes de navegação, deveriam criar ou expandir os negocios dos seus clientes, localizando no entrangeiro novas fontes de negocio para os seus clientes( Servindo de consultores ). O agente de navegação deve estar mais preocupado em manter os seus clientes do que em criar novos.
Caro Anonimo, comentários construtivos como o seu são sempre bem vindos.
Obrigado.
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