Um economista amigo, que certamente não morreria de amores pelos contabilistas, contou-me um dia uma anedota que, resumida, era assim:
“Estava um indivíduo perdido no meio da floresta, quando viu um homem empoleirado numa árvore. Exultante, pergunta-lhe: - Sabe onde é que estamos? Ao que o outro lhe retorquiu: - Eu estou no cimo desta árvore, e você aí em baixo!
“Desesperado, o indivíduo atirou: - É contabilista, não é?. – Como é que adivinhou? – respondeu-lhe o outro. – Porque acaba de me dar uma informação absolutamente exacta, mas que não me serve de nada.”
Manuel Sabastião, o presidente da Autoridade da Concorrência, que não é contabilista, poderia muito bem passar pelo homem da anedota empoleirado na árvore.
Veja-se o que ele foi ontem dizer à Assembleia da República, depois de uma investigação de meses, crê-se que mais aprofundada do que a anterior, que ele próprio se encarregou de desqualificar:
Os combustíveis em Portugal estão entre os mais caros da Europa; a carga fiscal sobre os combustíveis em Portugal é alta, mas não é a mais alta da Europa; a vizinha Espanha é que pratica uma carga fiscal muito baixa; as gasolineiras em Portugal são mais rápidas a subir os preços (quando a cotação internacional sobe) do que a baixá-los (quando a dita desce).
Tudo informações absolutamente verdadeiras e exactas, mas que não servem de nada a quem, como os portugueses, se encontram cada vez mais perdidos na selva da crise.
E o que é pior: tudo conclusões a que qualquer português médio, consumidor de combustível e minimamente atento às notícias, chega enquanto toma um café.
À pergunta essencial: se há, ou não, concertação de preços, cartelização no sector, Manuel Sebastião e a Autoridade da Concorrência ainda não sabem responder. Mas parece que não há, avançou, à cautela. Pelo menos, não há vestígios.
Talvez que com mais investigação se chegue a tais vestígios. Ou não. Talvez que, a existir cartelização, os homens de colarinho branco sejam no futuro mais descuidados. Ou tenham um rebate de consciência e decidam confessar tudo. Talvez. Manuel Sebastião, a Autoridade da Concorrência agradecerão.
Fernando Gonçalves
P.S. Tudo o que acabo de dizer não deve levar o leitor a pensar que, afinal, alinho na sanha contra as petrolíferas, a propósito da alta dos combustíveis. Continuo a achar que o maior problema dos transportadores não é a alta do gasóleo. Afinal, ele agora está abaixo do euro e não pára de aumentar o número de camiões parados… por falta de cargas.
In Transportes & Negocios
2 comentários:
Desde há muito que se vive num mundo liberal em que o Poder está nas mãos de grandes interesses. Os sectores ligados às indústrias do petróleo e automóvel são dos mais poderosos, e a regra é pagar e andar...
falta 1 regra, pagar, andar e calar... :)
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