30 janeiro, 2009

PIB de Angola ameaçado pelo petróleo

A economia angolana pode contrair-se em 2009, pela primeira vez nos últimos anos, devido ao recuo "dramático" das receitas petrolíferas, alerta Ricardo Gazel, economista chefe do Banco Mundial em Angola.

O relatório de Janeiro do economista, a que a “Lusa” teve acesso, refere que a quebra nominal do PIB pode atingir os 17% em relação a 2008, com a média anual do preço do petróleo a 50 dólares (e o sector não-petrolífero a crescer a 10% ao ano), ou chegar mesmo aos 23%, num cenário do barril de petróleo a 40 dólares.

"Como o sector não-petrolífero depende, em Angola, muito das despesas do sector público, e dado o declínio dramático esperado nas receitas petrolíferas em 2009, os ajustamentos orçamentais deverão resultar num abrandamento no crescimento do sector não-petrolífero e num crescimento negativo da economia no seu todo em 2009", refere.

"Em qualquer cenário", salienta Gazel, "o governo vai perder receitas em relação a 2008". A quebra pode atingir os 50%, num cenário "pessimista" de petróleo a 40 dólares e um corte de produção de 13%.

O declínio do sector petrolífero dependerdá "do comportamento dos preços do petróleo e das respostas da OPEP [actualmentre presidida por Angola]", no sentido de cortar ou aumentar a produção, em reacção às oscilações do preço. Depois de "um ano muito difícil" de 2009, uma recuperação pode surgir já em 2010, a acompanhar a tendência mundial.

O economista chefe do Banco Mundial defende que "as perspectivas económicas para Angola são profundamente incertas" mas sublinha que "os sinais actuais apontam para um caminho difícil pela frente".

O texto lembra que o Orçamento Geral do Estado para 2009, "elaborado antes do aprofundamento da crise financeira mundial", previa um crescimento real de 11,8%, correspondendo a um crescimento de 5,9% para o sector petrolífero e de 16,3% para o sector não petrolífero. A revisão orçamental já foi admitida pelo Executivo de Luanda, embora sem adiantar valores.

No entanto, lembra Gazel, em contraste com o aumento da produção de petróleo previsto para 2009, de 6,6%, a OPEP determinou para Angola uma descida de produção de 13%, ou cerca de 244 mil barris/dia de um total a rondar os 1,9 milhões.

Por outro lado, o preço do barril de petróleo ronda actualmente os 40 dólares, em contraste com os 147 dólares do Verão do ano passado.

No seu relatório, Ricardo Gazel alerta para a possibilidade de o Governo, "perante este duro cenário", optar por "cortes substanciais no orçamento" que podem "despoletar muitos efeitos negativos" na reconstrução nacional iniciada após o fim da guerra em 2002. "Largos cortes nos projectos de investimento têm impactos negativos no esforço de diversificação da economia, limitando o posicionamento de Angola como potencial produtor e protagonista dos mercados regional e global assim que a economia global melhorar no futuro", alerta.

O economista do Banco Mundial chama ainda a atenção para o facto de eventuais cortes nas áreas sociais poderem prejudicar proporcionalmente a população mais vulnerável, apontando como essencial que a estabilidade económica conseguida nos últimos anos deve ser "preservada tanto quanto possível".

Mas suaviza o cenário recordando que a crise global "não vai durar para sempre" e que "na medida em que a economia mundial vai melhorando, os países mais bem posicionados em termos competitivos e capacidade produtiva vão conseguir ganhos substanciais".

Angola é actualmente o primeiro destino das exportações nacionais fora da União Europeia. O país responde por cerca de um terço da carga aérea expedida a partir de Portugal e tem sido fundamental para atenuar as quebras nas cargas expedidas a partir dos portos lusos.


In Transportes & Negocios

Sem comentários: